Depois da perda, o autocuidado muda de forma.
E tudo o que antes parecia simples — tomar banho, comer, dormir — pode se tornar um esforço imenso.
Como pensar em se cuidar quando na verdade queria estar cuidando de alguém?
Talvez seja difícil se olhar no espelho pois não se reconhece mais.
Talvez seu corpo ainda carregue marcas de uma espera que não se concretizou.
Talvez o mundo siga no mesmo ritmo de sempre, enquanto dentro de você tudo está em suspenso.
O que é autocuidado quando tudo dói?
Autocuidado, agora, talvez não seja aquela rotina cheia de hábitos saudáveis.
Talvez seja conseguir levantar da cama.
Talvez seja permitir-se chorar.
Talvez seja aceitar um abraço, dizer “não estou bem”, ou só ficar em silêncio.
Autocuidar-se nesse momento é ser gentil com o que você sente.
É olhar seus limites e possibilidades.
É respeitar o tempo do seu corpo, da sua alma.
Pode ser que você não consiga fazer muito. Mas tudo bem. O mínimo já é muito agora.
Se puder, vá devagar.
Permita-se não estar pronta.
Permita-se viver esse luto como ele precisa ser vivido — sem pressa de se recompor.
Cuidar de si, nesse momento, é sobretudo não se abandonar.
Texto de Raquel Carvalho Vicente
Psicóloga e psicanalista com atuação nas áreas clínica e hospitalar.
Voluntária do ILP.